Fundada em 2002 com a missão de colocar organizações “Always online, Always Secure”, a Securnet tem no seu core business a cibersegurança. No entanto, ao longo dos anos, evoluiu para uma oferta diversificada de serviços na área do IT, tendo registado um crescimento superior a 45% no último ano. A marca acaba de mudar de mãos, na sequência da aquisição da Reload, empresa portuguesa à qual pertence – , pela espanhola Evolutio. Miguel Barreiros, director comercial da Securnet, falou com a Security Magazine nos escritórios em Lisboa, sobre o percurso da empresa e as principais tendências no mercado.
Security Magazine – A Securnet surgiu no mercado há 22 anos. Como surgiu a empresa?
Miguel Barreiros – A Securnet foi fundada em 2002 por dois amigos que trabalhavam na área da segurança de redes e que decidiram arrancar com uma empresa dedicada à cibersegurança. Começaram por fazer auditorias e, posteriormente, projectos derivados dessas auditorias.
Fez, no fundo, um percurso inverso das empresas actualmente, ou seja, começou pela cibersegurança, tema que hoje tanto se fala?
É verdade. A Securnet, em 2002, já tinha como slogan “Always Online, Always Secure”, o que, na altura, nem fazia sentido para muitas pessoas. Hoje, a resiliência e segurança são absolutamente fundamentais no mundo digital. Apesar do excelente trabalho das restantes áreas, a cibersegurança representa 60% a 70% do nosso negócio reflectindo aquilo que é a própria procura do mercado.
A nossa actuação divide-se em Cloud híbrida, Redes e Cibersegurança com as várias vertentes de serviços de consultoria, engenharia, pré-engenharia, suporte e operação. Fazemos suporte a clientes com operação própria e serviços geridos para os menos autónomos, área que tem sido uma aposta ganha e crescente.
Contamos com parcerias estratégicas com a HPE e Aruba, Check Point, Fortinet, Veeam, Microsoft, Trend Micro, Splunk, F5 Networks, Crowdstrike, Darktrace e a portuguesa GAP, entre muitas outras parcerias de portefólio.
22 anos depois, qual é a realidade da Securnet actualmente?
A Securnet atingiu números muito relevantes, tendo no ano passado crescido cerca de 45%, assumindo-se como o principal parceiro nacional de alguns dos fabricantes e conquistando um número significativo de novas contas. Há uma evolução muito significativa, contando hoje com mais de uma centena de colaboradores.
A nossa sede está em Ermesinde, Porto, onde tudo começou, e contamos também com escritórios em Lisboa.
Para mim, é um privilégio integrar esta equipa que se comporta muitas vezes como uma família e ter sido sempre tão bem acolhido. Todos os que têm participado neste projecto têm de estar orgulhosos pelo que já foi alcançado e empolgados com o que estou certo ainda vamos alcançar.
Com esta recente aquisição da Securnet, pela Evolutio, o que irá mudar na Securnet em termos de posicionamento e actuação?
Não se prevêem alterações de relevo. Esperamos continuar o nosso crescimento baseado nos mesmos princípios e valores, que verificámos estarem já e desde sempre alinhados com os da Evolutio.
O plano é manter as boas práticas que permitiram à Securnet chegar até aqui com êxito reconhecido e, em conjunto com as capacidades do grupo, melhorar cada vez mais. É bom sentir o suporte de uma organização com a dimensão do Grupo Evolutio.
Continuarão a apresentar-se ao mercado com a mesma denominação?
Sim, sem dúvida. A Securnet vai continuar a operar de forma autónoma enquanto marca, entidade e estrutura, com os mesmos interlocutores de sempre, as mesmas pessoas de sempre.
O que significa para a Securnet esta aquisição e que mais-valias vislumbra para a Securnet e para os seus clientes?
Como eu já referi, a Securnet é uma empresa em crescimento continuado desde 2002 que sempre esteve aberta a explorar formas de continuar a crescer, sem comprometer o nosso ADN ou qualidade que entregamos aos clientes.
A entrada num grupo ibérico desta dimensão, que em algumas áreas é mesmo líder ibérico, trará garantias de continuidade, de segurança empresarial e de solidez, factores cada vez mais importantes para todos os clientes.
A escassez de recursos humanos é uma das grandes preocupações que este mercado da cibersegurança enfrenta, uma vez que temos, por um lado, as empresas fornecedoras de serviços de segurança e, por outro, todas as empresas com a função internalizada, ambas com as suas próprias necessidades. Considera que os prestadores de serviços no mercado podem dar uma resposta e ajuda a esse nível?
Sim, de facto, além dos prestadores de serviços de segurança, há empresas que têm o IT internalizado e outras que, embora tenham o IT externalizado, têm a cibersegurança internalizada.
Dada a relevância que o tema assume actualmente, alguns estudos indicam que muitos gestores e organizações apontam a cibersegurança como um dos principais riscos do negócio, surgindo à frente dos fenómenos naturais, por exemplo.
As empresas fornecedoras de serviços têm know-how e podem ajudar se tiverem recursos. Os valores são bastante altos e o mercado não está preparado para pagar o justo valor. Além disso, é uma actividade que exige uma constante actualização e quem não acompanha essa actualização, fica para trás.
Como vê que as questões da cibersegurança têm evoluído e como é que as nossas empresas se têm preparado para responder a esses desafios?
Quem trabalha nesta área lida com organizações criminosas que, à semelhança de todas as outras empresas, também fizeram o percurso da transição digital. Além disso, temos a velha lógica de que quem ataca basta acertar uma vez para ter sucesso. Quem defende tem de defender sempre, ou seja, pode andar dez anos a evitar um ataque mas, no dia que um passar, falha e o atacante passa a herói. É uma luta desigual.
O cibercrime é um negócio com recursos extraordinários. Fala-se que é, inclusivamente, uma fonte de financiamento de alguns países. Por alguma razão, a NATO, há muitos anos, elegeu o ciberespaço como mais um teatro de operações, a somar ao ar, mar e terra.
De facto, as questões da cibersegurança estão presentes no nosso dia-a-dia. As empresas estão mais atentas, mas o modelo de negócio da maior parte das empresas não alberga as verbas necessárias para a cibersegurança. Se recuarmos no tempo, os empresários, quando montavam um negócio, não tinham de se preocupar com a fatia importante da cibersegurança. No entanto, hoje, se uma empresa quer aceder a outros mercados e estar presente em determinados clientes, tem de olhar para a cibersegurança como uma questão importante. A ciber protecção é pedida, cada vez mais, como um selo de qualidade.
Considera que há ainda um caminho a percorrer pelas empresas neste tema?
Acredito que a cibersegurança ainda é vista como um custo, mas vai ganhar vida própria dentro das organizações e encarada como mais um departamento, à semelhança do que aconteceu com o IT.
As seguradoras actualmente já têm a preocupação de perceber até que ponto os riscos do negócio são impactados pelos riscos cibernéticos e se a empresa está ou não preparada para estes riscos. Os riscos não desaparecem, nós é que temos de estar cientes deles e assegurar o equilíbrio necessário em cada um. É, no fundo, aquela velha máxima de que não podemos ter custos de protecção superiores aos custos do bem protegido.
Há ainda um caminho a percorrer, como é natural nestas áreas da inovação e tecnologia.
Como vê o futuro da Securnet e, em particular, o ano de 2024?
Vejo com muita expectativa e acredito que haverá muita evolução e entusiasmo. Acredito que continuaremos a crescer e as expectativas são as melhores, assim existam recursos para podermos continuar a crescer, especialmente humanos, onde existe grande dificuldade, até pela concorrência existente por parte de outros países. Temos de formar pessoas, estando preparados para perdê-las.
Sinto que as organizações começam a valorizar o trabalho que fazemos e a pagar o valor mais próximo do que é o justo valor, tanto no mercado português como noutros mercados. Temos ambições de fazer mais e melhor e não nos circunscrevemos à área geográfica de Portugal. Acredito que temos mais-valias que poderemos transmitir e seremos um parceiro qualificado, seja para clientes ou fabricantes, em qualquer país do mundo como o somos em Portugal.
Exportamos algum know how e a partir de Portugal trabalhamos com algumas multinacionais de relevo e áreas críticas, sendo que se o fazem é porque confiam e gostam do nosso trabalho, o que nos deixa numa posição agradável de optimismo.
A qualidade e valor acabam por ser recompensados e fazem parte dos nossos objectivos, sempre. Não queremos vender soluções baratas, mas vender soluções boas, com retorno e pelo seu justo valor. Quando o argumento é exclusivamente o preço mais baixo devem os clientes desconfiar.