A PowerShield, criada em 2013, dedica-se à vigilância humana e electrónica e serviços de CRMA (SOC), conta com um volume de facturação de 56 milhões de euros e instalações em Lisboa, Porto, Madeira e Algarve. Bruno Lima, board advisor da empresa, avança à SECURITY MAGAZINE, que a equipa está optimista em 2024, prevendo-se o lançamento de novos projectos e investimentos, mas não deixa de fora as preocupações que afectam o sector.
SECURITY MAGAZINE – Na sua perspectiva, observando a dinâmica desta actividade nos últimos anos, quais os principais desafios que enfrenta actualmente o sector da segurança privada em Portugal?
Bruno Lima – A dinâmica do sector de segurança privada em Portugal está marcada por uma realidade complexa, onde a escassez de mão de obra qualificada emerge como uma questão crítica, interligada profundamente com desafios legislativos, particularmente em torno do cumprimento da Lei nº 46/2019, de 8 de Julho.
Esta legislação, ambiciosa nos seus objectivos, foi concebida como um antídoto contra as práticas nocivas que têm prejudicado o sector, incluindo o trabalho não declarado e a venda com prejuízo.
A lei prometia inaugurar uma nova era de integridade e transparência, estabelecendo um campo de jogo nivelado onde a concorrência leal pudesse florescer, beneficiando empresas, trabalhadores e clientes. No entanto, a sua efectividade tem sido limitada pela sua implementação e fiscalização. Sem uma aplicação rigorosa, as boas intenções da lei permanecem em grande parte no papel, deixando o sector vulnerável às mesmas práticas que se pretendia erradicar. Essa lacuna na aplicação da lei acarreta uma dupla consequência.
Por um lado, perpetua um ambiente de negócios onde a concorrência desleal pressiona as margens e compromete a qualidade dos serviços e, por outro, desincentiva a entrada de novos talentos no sector, exacerbando a já crítica escassez de mão de obra.
A dificuldade de atrair e reter profissionais não é apenas reflexo das condições de mercado, mas também do ambiente regulatório e da sua efectiva fiscalização.
Profissionais qualificados, cientes das incertezas e instabilidades que caracterizam o sector, podem optar por oportunidades em áreas que ofereçam maior segurança e reconhecimento.
Esta realidade destaca a importância crítica de fortalecer mecanismos de fiscalização e implementação da legislação existente, não apenas para combater as más práticas, mas também para valorizar e dignificar a profissão de segurança privada.
Além disso, a concentração de mercado observada, onde um número reduzido de empresas detém uma fatia significativa do valor total, cria um cenário de competição agressiva, que muitas vezes se traduz em pressões adicionais sobre as condições de trabalho e práticas empresariais.
A melhoria da regulamentação e fiscalização seria um passo significativo na direcção de um sector mais equitativo e sustentável, onde a concorrência se baseie na qualidade e inovação, e não na redução de custos à custa dos trabalhadores e da legalidade.
Que estratégias devem ser adoptadas para contornar esses mesmos desafios?
É necessário adoptar uma série de estratégias que visem a melhoria da implementação e cumprimento da legislação existente e a valorização dos profissionais.
A primeira e mais crítica estratégia passa pela garantia de que a Lei seja aplicada de forma efectiva. Isso implica uma acção coordenada entre as autoridades reguladoras e empresas do sector, com o objectivo de erradicar as más práticas como o trabalho não declarado e venda com prejuízo.
É imprescindível que haja um reforço na fiscalização e um incremento nas sanções aplicadas às infracções, desincentivando assim qualquer tentativa de contornar as regras.
É urgente promover a transparência e ética empresarial, com as empresas a adoptarem práticas de governança corporativa que assegurem uma concorrência justa e leal.
A cooperação entre as empresas, com o intuito de estabelecer padrões comuns de serviço, pode contribuir para uma elevação geral da qualidade no sector e construção de uma imagem pública mais positiva da segurança privada.
Já no que consta à dificuldade em atrair e reter profissionais qualificados, o cerne do problema não reside apenas na procura insuficiente, mas também na percepção da carreira de vigilante e exigências iniciais para os que desejam ingressar no campo.
Em Portugal, para que um vigilante possa exercer funções legalmente, é necessário que obtenha formação específica, que passa pela obtenção de um cartão profissional de vigilante de segurança privada, emitido pela Secretaria-Geral da Administração Interna.
Esta formação, além de ser um investimento significativo de tempo, muitas vezes é também um custo financeiro para os candidatos, que poderiam estar a trabalhar e a ganhar experiência prática em outros sectores que não exigem tal investimento inicial.
Para tornar a carreira de vigilante de segurança privada mais atractiva e acessível, é crucial considerar políticas que reduzam a barreira de entrada nesta profissão.
Uma das abordagens seria a criação de incentivos ou subsídios para a formação de vigilantes, seja através de financiamento directo, seja por meio de parcerias entre o Estado e instituições de formação. Isto poderia aliviar o ónus financeiro dos candidatos e tornar a opção pela segurança privada mais viável.
Além disso, a cooperação entre as empresas de segurança privada, associações do sector e a Administração Interna para reformar a estrutura da formação poderia ser uma via para promover a profissão. Um lobby conjunto poderia argumentar a favor de uma estrutura modular ou escalonada de formação, onde os indivíduos possam começar a trabalhar mais rapidamente, talvez sob certas restrições, enquanto completam a sua formação ao longo do tempo.
A flexibilização da formação, permitindo que a teoria e a prática ocorram concomitantemente, poderia facilitar a entrada no mercado de trabalho, mantendo os padrões de qualidade e segurança. Esta abordagem não só captaria mais pessoas para o sector, mas também asseguraria que a vigilância humana permanecesse uma carreira viável e respeitada, adaptada às necessidades do mercado de trabalho contemporâneo e às expectativas dos trabalhadores.
Como olha para o futuro da segurança privada em Portugal em termos de crescimento, regulamentação e contratação pública?
Percebe-se que o crescimento do sector, a regulamentação e contratação pública são pontos que necessitam de uma atenção cuidadosa e acções estratégicas para assegurar uma evolução positiva.
No que concerne ao crescimento, o sector tem potencial para expandir-se, especialmente em áreas que demandam maior especialização e uso de tecnologia avançada, como a cibersegurança. No entanto, o crescimento sustentável depende de uma base sólida de profissionais qualificados, o que nos remete à necessidade de revisão da estrutura de formação e certificação, tornando-a mais acessível e alinhada com as demandas actuais do mercado.
A regulamentação, peça-chave para a qualidade e confiabilidade dos serviços de segurança privada, deve ser objecto de constante avaliação e actualização. As lacunas na aplicação da lei que regula o sector precisam ser endereçadas, e a fiscalização das actividades das empresas de segurança privada deve ser reforçada para garantir a adesão aos mais altos padrões éticos e profissionais.
A contratação pública tem sido uma área de particular preocupação, uma vez que as práticas actuais podem levar a uma corrida pelo menor preço, em detrimento da qualidade e sustentabilidade económica das empresas de segurança privada.
É imperativo que o processo de contratação pública seja revisto para assegurar que os contractos reflictam não apenas um preço justo, mas também considerem a qualidade e conformidade com as normas laborais e de segurança.
Uma abordagem mais equilibrada na contratação pública poderia mitigar os problemas de trabalho não declarado e dumping social, contribuindo para a estabilidade e melhoria contínua do sector.
Por onde passa o crescimento da vossa organização em 2024?
Estamos repletos de optimismo para o ano de 2024, confiantes de que o grupo PowerSHIELD irá destacar-se no mercado pela sua capacidade inovadora e serviço altamente personalizado que oferece. A nossa visão é inequívoca: pretendemos ir além do convencional, entrando numa era em que a tecnologia, com ênfase na inteligência artificial, se funde à humanização dos nossos serviços.
É com este objectivo em mente que direccionamos os nossos investimentos para aprimorar a nossa capacidade de resposta digital, aumentando a eficiência do nosso Centro de Operações de Segurança (SOC). Vamos proporcionar uma experiência única e exclusiva de segurança, visível na implementação de salas de segurança com ligação CCTV dedicada, garantindo um acompanhamento e monitorização personalizados, em linha com o nível de exclusividade e confiança que ambicionamos consolidar com cada parceiro.
Encaramos o futuro com uma visão clara e uma estratégia determinada, o presente ano será um marco na nossa trajectória, consolidando o nosso legado de qualidade e confiança no sector de segurança privada em Portugal