Por Natacha Sousa, Gestora de Segurança da SATA Internacional Azores Airlines e da SATA Air Açores
Da ameaça à facilitação
O reforço da segurança da aviação é um equilíbrio delicado. Num mundo onde o transporte aéreo se tornou parte integrante da mobilidade global, a generalização do transporte aéreo tem também como consequência inerente manter uma experiência positiva aos passageiros enquanto circulam nos aeroportos e posteriormente viajam.
Encontrar este equilíbrio levou à introdução de tecnologias de autenticação biométrica, processos de rastreio automatizados e avaliações de segurança baseadas no risco.
Esses avanços ajudam a acelerar o processo de rastreio para passageiros de baixo risco, permitindo o foco dos profissionais de segurança nos indivíduos de maior risco.
Todavia, foi gerada uma linha ténue entre os limites das responsabilidades dos gestores e profissionais de segurança daquilo que são matérias de segurança da aviação civil e outras matérias, como a cibersegurança ou a facilitação.
Com a pandemia COVID-19, aquando da necessidade de implementar e divulgar as medidas de controlo e de circulação sanitária de passageiros, recorreu-se aos fóruns de segurança da aviação civil, aos gestores e aos profissionais de segurança da aviação civil, não raras vezes, a responsabilidade de receber, divulgar e por em prática informação conteúdo sem qualquer implicação security.
Consequentemente, ao longo desde período, o foco na avaliação das ameaças e de comportamentos foi disperso e condicionado, abrindo-se o precedente para que a área de segurança da aviação civil se torne aquela, onde tudo o que não é enquadrável passe a ser aceitável.
A separação e manutenção da integridade das matérias de segurança da aviação civil e de facilitação permite assegurar especialização e optimização de recursos naquilo que são os objectivos core de cada disciplina.
Os profissionais de segurança da aviação civil estão incumbidos de identificar e atenuar os riscos, combater o terrorismo, acompanhar a evolução das ameaças e criar planos de resposta adequados para atos de interferência ilícita, como ameaças de bomba, passageiros desordeiros, ataques armados, entre outros.
Por outro lado, a facilitação refere-se à estratégia de optimizar a movimentação de pessoas e bens nos aeroportos, de modo eficiente e conveniente para todos os intervenientes da indústria, isto engloba uma ampla gama de atividades e serviços que visam tornar a experiência no
aeroporto mais tranquila e menos demorada.
A segregação de equipas dedicadas exclusivamente às preocupações Security e outras às de facilitação permitem aos aeroportos, às entidades e até às autoridades aeronáuticas lidar melhor com as ameaças emergentes, implementar medidas de controlo rigorosas e permanecer vigilantes contra agentes mal-intencionados. Isto resulta numa melhor gestão de recursos, sem condicionar a aplicação de medidas de segurança em prol de uma melhor experiência para o passageiro.
Se por um lado se pretende otimizar a experiência, por outro lado salvaguardam-se as considerações de segurança como a prioridade, assegurando a pertinência de cada um dos domínios.
A valorização da segurança da aviação civil
As organizações internacionais, entidades reguladoras, autoridades nacionais da aviação civil e a indústria têm um papel preponderante na evolução o desenvolvimento de normas em matérias de segurança da aviação civil.
Quem tem o poder legislativo é responsável pela valorização das matérias de segurança de aviação civil, ao nível da segurança operacional, como a pedra basilar no dia a dia das operações.
Medidas como criar um descritivo de funções internacionalmente reconhecido; incluir a segurança da aviação civil nos certificados de operador aéreo; promover uma cultura assídua de colaboração e de comunicação entre os vários intervenientes da indústria; valorizar e promover a preponderância estratégica segurança da aviação civil para a subsistência do negócio da aviação, são alguns exemplos de boas práticas que apoiariam o reconhecimento das funções dos profissionais de segurança da aviação civil, pois são eles o principal filtro na identificação de ameaças diretamente direcionadas à aviação civil, algo preponderante para a integridade do sistema.
Perante um mundo em permanente mudança face aos desafios que enfrenta, a segurança das pessoas, das infraestruturas e das aeronaves exige aos gestores de segurança da aviação civil supervisão meticulosa, planeamento estratégico e resposta rápida às ameaças emergentes, sejam estas internas ou externas e a necessidade de conhecimento e de atualização constante sobre essas ameaças e desafios. Este foco não pode ser descurado.
Ainda há espaço para este reforço dentro das organizações, o papel dos gestores de segurança da aviação deixou de ser uma função administrativa tradicional e passou a ser uma posição gestão estratégica fundamental para a gestão diária das operações de transporte aéreo.
A história não se repete, evolui
A ameaça terrorista contra a aviação civil evoluiu significativamente, conduzindo governos, autoridades aeronáuticas e companhias de aviação a adotar medidas de segurança abrangentes. Tem vindo a ser desencadeada uma revolução nos protocolos de segurança da aviação, até aos esforços contínuos atuais para combater ameaças internas e ataques cibernéticos. A indústria continua a evoluir para se manter à frente das táticas em evolução.
A cooperação global, a partilha de informações, a inovação tecnológica e o compromisso com a segurança dos passageiros continuam a ser primordiais à medida que o mundo trabalha coletivamente para mitigar a ameaça terrorista contra a aviação civil.
Em matérias de segurança da aviação civil, os conhecimentos especializados são vitais para salvaguardar as organizações contra atos de interferência ilícita. Neste sentido, as autoridades da aviação civil devem assumir uma posição ativa na valorização desta área, e na definição da importância e das responsabilidades que os gestores de segurança assumem dentro das organizações.
Os desafios e ameaças à segurança da aviação civil não são concorrenciais e o papel que os profissionais de segurança assumem tem de ir além de um mero requisito regulatório e ser consciencializado e valorizado transversalmente por toda a indústria.
Afinal passaram-se mais de vinte anos desde os trágicos incidentes de 11 de setembro de 2001, à medida que a tecnologia avança e o cenário de ameaças evolui, reconhecer e capacitar os profissionais de segurança da aviação civil, não é apenas uma necessidade, mas uma obrigação moral fundamental para garantir a segurança contínua da aviação global.