Em Ovar está uma das principais fábricas de videovigilância, sistemas de comunicação e detecção de incêndio do grupo Bosch a nível mundial. A nova área de 3.200m2 foi inaugurada em 2020, num investimento de cerca de 2,1 milhões de euros, sendo que 2.500m2 destinam-se à produção de sistemas de comunicação, segurança, detecção de incêndio e painéis e soluções de SW, HW e testing. A unidade portuguesa exporta quase a totalidade da sua produção para todo o mundo. À Security Magazine, durante uma visita à fábrica, Sérgio Salústio, director de I&D da Bosch Ovar, afirma que o futuro é agora e que a inovação é um factor determinante para a empresa. Quanto aos próximos tempos, acredita que a diversificação do produto, com a agregação de novas funções, marcará os próximos desenvolvimentos do sector.
Security Magazine – Como surgiu unidade de Ovar e qual a sua importância para o grupo Bosch?
Sérgio Salústio – Esta unidade tem uma história semelhante às organizações Bosch em Portugal, tendo nascido há mais de 20 anos como uma fábrica, dedicada principalmente ao sector de videovigilância e fabrico de câmaras de vídeo.
É uma das principais fábricas no âmbito dos negócios da Bosch na área de Security Systems. Sempre foi a fábrica de maior dimensão e produção, desde a sua génese, apesar de a empresa contar também com fábricas na China, México e EUA.
Em termos de importância, sendo a principal, tem um papel relevante, quer em termos de peso do que produz na facturação do grupo, quer ao nível de conhecimento e liderança de tecnologia.
O grupo tem um programa de aquisições e alargamento do painel e, nesses casos, a Bosch de Ovar, sendo uma lead plant, é, normalmente, chamada para fazer o onboarding, integração e adaptação de outras unidades fabris da área de sistemas de segurança, ou seja, tem o papel de dar suporte às outras unidades fabris.
Concretamente, o que sai da fábrica de Ovar?
Anteriormente saiam apenas produtos, hoje saem produtos e serviços. Exportamos quase 99% da produção para o mundo inteiro.
Em termos de produtos, saem perto de 500.000 câmaras de videovigilância por ano, virtualmente para todo o mundo, sendo que grande parte do nosso mercado é a Europa e uma parte significativa os Estados Unidos. Exportamos também para a China, América Latina e África. Embora exportemos para todo o mundo, as exportações para locais onde existem outras fábricas da Bosch são mais reduzidas.
Daqui saem sistemas de protecção e detecção contra incêndio, nomeadamente painéis e detectores de incêndio. Fabricamos cerca de um milhão de sensores/detectores de incêndio por ano, os quais exportamos para todo o mundo. Os painéis de incêndio e centrais de incêndio também são fabricados em Ovar.
Fabricamos sistemas de comunicação ou áudio (public adress systems – sistemas de anúncio público), um sector muito importante para nós. No âmbito da segurança, no caso de uma situação de evacuação ou emergência, os edifícios são obrigados a ter instalações que possam comunicar e difundir avisos sonoros, informações de evacuação e emergência de incêndio. Neste campo, produzimos amplificadores, misturadores de som e outros dispositivos necessários, nomeadamente call stations com microfones. Tudo sai desta fábrica para todo o mundo, principalmente para a Europa.
Um dos produtos de áudio fabricado em Ovar, – que não se enquadra no sentido clássico dos sistemas de segurança, mas que tem uma componente de segurança muito elevada, – é o sistema de conferência. Por exemplo, nas reuniões das Nações Unidas, G5, G7 ou Parlamento português, são utilizados, muitas vezes, sistemas Bosch produzidos em Ovar. São sistemas que têm relevância pela sua fiabilidade e segurança em comunicações deste género.
Recentemente, depois de uma transferência da China, chegaram a Ovar os sistemas de controlo de acessos, ou seja, os cartões, sensores que lêem cartões e a central de gestão de acessos são feitos aqui. Esta é a última peça do portfolio de segurança que arrancou no final de 2020.
Em Ovar é feita toda a produção destes produtos, bem como toda a assemblagem, até ao produto final?
Sim, tudo é feito de raiz. A empresa recebe os componentes electrónicos e aqui é feito o fabrico completo desses produtos, os quais saem embalados e, muitas vezes, prontos para serem entregues ao cliente. É uma produção completa, sendo que a produção electrónica é o nosso core.
A fábrica de Ovar está equipada com as tecnologias mais avançadas de produção electrónica. Falamos de tecnologias SMT (Surface Mount Technology), ou seja, o seu nível de miniaturização neste momento está ao nível daquilo que se faz em todo o mundo.
Estas tecnologias começaram por ser usadas, normalmente, em dispositivos móveis (smartphones), devido à sua dimensão. A fábrica de Ovar, no ano passado, qualificou-se tecnicamente, tendo equipamentos com capacidade de produção com esse nível de miniaturização, que contempla circuitos muito complexos, com ligações rádio, wi-fi, conectividade e sistemas de processadores que permitem introduzir soluções de Inteligência Artificial.
Temos tecnologias de produção de quase tudo o que é microelectrónica. Além disso, temos os sensores de imagem e vídeo, algo muito particular e com requisitos de tecnologia especial. Temos vários níveis de sofisticação e processos que estão ao nível do que melhor se faz mundialmente na indústria.
Veja a entrevista curta na Bosch de Ovar
Qual importância da inovação para a Bosch?
Inovação é um tema central para nós e está ligada à nossa história.
Em Ovar, começámos como uma fábrica e produzíamos o que era desenvolvido noutros centros da Bosch. À medida que as coisas foram evoluindo e acelerando, nomeadamente no domínio da electrónica, tornou-se impossível aguardar que o desenvolvimento viesse dos outros pontos. Há cerca de cinco anos, o grupo decidiu criar em Ovar o Centro de Engenharia para que a inovação fosse possível desde a origem da ideia do produto. Ter a inovação lado a lado com a área de produção trouxe-nos mais velocidade, criatividade e capacidade de influenciar a estratégia do grupo.
A inovação é o que nos distingue em termos de grupo e localização e um factor-chave de diferenciação.
A inovação não tem fim e a paixão está aí, ou seja, nunca estará tudo inventado. As ideias dos próximos produtos surgem das dificuldades que sentimos durante o desenvolvimento dos produtos actuais.
Veja a entrevista curta na Bosch de Ovar
Por onde passa o vosso futuro?
O futuro é agora.
O futuro da Bosch passará por uma intervenção, cada vez maior, naquilo que são os conceitos técnicos, as inovações e tecnologias, e a forma como serão definidos os sistemas de segurança do futuro. O futuro dos sistemas de segurança passará pelo desenvolvimento que fazemos aqui.
O futuro passará por uma maior cooperação com as universidades. Neste momento, temos três projectos de inovação com as Universidades do Porto, Aveiro e Minho. Estes projectos envolvem 50 investigadores de Ovar e cerca de 100 professores, associados e bolseiros das três universidades. O futuro passará por continuarmos a apostar nas competências de desenvolvimento que hoje felizmente estão instaladas no país.
O outro ponto de futuro passará pela diversificação do produto. À medida que os produtos ficam mais inteligentes, esbatem-se as fronteiras das funções de distintos produtos. Ou seja, uma câmara de vigilância antes era um produto exclusivamente destinado à segurança.
Com a Inteligência Artificial, essa câmara pode ter outras funções. Neste sentido, o futuro passará por expandir, com o auxílio da Inteligência Artificial, a utilização do produto. Para os nossos clientes e utilizadores é algo muito benéfico porque têm um produto, cuja função primária, a segurança, não está em causa, mas que pode ter mais funções, como alarme, assistência, auxílio em emergências médicas, contagem de pessoas, entre outros.
Com o Covid-19, por exemplo, muitos dos nossos produtos foram actualizados para fazerem detecção de máscaras e contagem de pessoas, ou seja, uma expansão daquilo que é a sua função primária.
Veja a entrevista curta na Bosch de Ovar
Veja a entrevista completa na Bosch de Ovar
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