A BA Glass, multinacional de origem portuguesa, tem 110 anos de vida. A sua história é marcada por sucessivas e importantes aquisições, que lhe permitem ser hoje uma das maiores empresas de produção e comercialização de embalagens de vidro no mundo. Com uma produção anual de mais de 8 biliões de garrafas, o grupo facturou no último ano um bilião de euros. Com uma operação tão desafiante, a segurança nunca é esquecida e anda de mão dada com o negócio. Face à sua realidade, a BA Glass decidiu implementar uma nova ferramenta para controlo dos seus prestadores de serviços ao nível do cumprimento das normas de segurança. A Security Magazine esteve na fábrica de Avintes, em Vila Nova de Gaia, à conversa com Tiago Vilas Boas, corporate health & safety coordinator da BA Glass, e Ana Barreira, directora comercial da e-coordina Portugal, a propósito deste projecto.
Muito provavelmente já bebeu por uma garrafa produzida pela BA Glass. A empresa produz mais de oito biliões de garrafas de vidro, todos os anos, as quais são distribuídas por mais de 60 países para clientes do sector alimentar e bebidas. Desde água a cerveja, hoje são muitas as renomadas marcas, a nível global, que têm como embalagem uma garrafa de vidro produzida pela BA.
O grupo conta com 12 fábricas na Europa (Portugal, Espanha, Polónia, Alemanha, Roménia, Bulgária e Grécia), duas centrais de tratamento de casco (Portugal e Espanha), uma mina a céu aberto para extracção de matéria-prima (Espanha) e uma unidade de reparação de moldes e paletes (Portugal). Globalmente, estas unidades empregam 3800 colaboradores, 1200 dos quais estão em Portugal.
Com uma operação tão complexa e exigente, do ponto de vista operacional e humano, a segurança é uma das componentes mais valorizadas pelo grupo e está presente na organização de forma muito transparente e transversal. “Desde que entramos naquela porta, estamos focados na excelência”, diz Tiago Vilas Boas. Para se chegar a este nível de excelência é essencial trabalhar com o coração, ou HeART (Humildade, emoção, Ambição, Rigor e Transparência) o mote que serve de linha orientadora para toda a organização.
Nesta busca pela excelência, a proximidade da segurança à direcção executiva é reveladora da importância e significado que esta área assume no negócio do grupo, sendo claro o forte e contínuo investimento de toda a estrutura na segurança das suas pessoas. É de assinalar que a área da segurança depende directamente de um elemento da direcção executiva do grupo, o que facilita a tomada de decisão e torna o processo de implementação de qualquer acção muito mais célere.
Tiago Vilas Boas chegou à BA Glass em 2015, sendo responsável por toda a componente de segurança nas 12 fábricas do grupo. A seu lado tem um responsável de segurança em cada fábrica na Europa. Cada responsável de segurança reporta, hierarquicamente, ao director de fábrica e, funcionalmente, a Tiago Vilas Boas (segurança), a Sérgio Sousa (ambiente e “property risk”) e Assunção Ferreira (gestão de sistemas integrados).
Em Avintes, Patrícia Dias é a responsável pela qualidade, ambiente e segurança da fábrica de Avintes e, como explica, “a equipa de segurança em cada fábrica é apoiada pelos chefes de divisão, que ajudam em todos os processos a implementar”.
Tiago Vilas Boas acrescenta que o grupo procura, com esta estratégia, “colocar o foco nas chefias para que o tema da segurança não seja exclusivo do departamento de segurança e que seja transversal a toda a estrutura”.
BA Safety Way: a segurança é de todos
Na BA, a segurança é de todos e os seus colaboradores são envolvidos por um verdadeiro espírito de segurança, prova disso é a taxa de sinistralidade classificada como “muito boa” em termos de práticas de segurança.
Debaixo do “chapéu” BA Safety Way, a empresa desenvolve todos os anos várias medidas focadas na melhoria das suas práticas, redução de acidentes e melhoria das condições de segurança do espaço. Uma das medidas implementadas nesta estratégia passou por, a partir de 2019, afectar o prémio anual variável do colaborador ao BA Safety Way, ou seja, para o colaborador aceder a esse valor tem de cumprir e adoptar determinado tipo de acções e comportamentos seguros.
Com um ambiente muito árduo do ponto de vista humano, marcado por altas temperaturas e ruído contínuo, são muitos os alertas visuais que surgem em tons coloridos no chão de fábrica. A informação visual é, de facto, o elemento de comunicação mais eficaz e que torna esta realidade menos hostil. Tiago Vilas Boas explica que “o grupo BA esteve sempre focado em criar condições de trabalho para que as pessoas possam trabalhar de forma segura, num ambiente extremamente agressivo do ponto de vista humano, com gotas a 500ºC e com necessidade trabalhar de auriculares durante 8h”. Como acrescenta, “se não criarmos um espaço de trabalho seguro, corremos o risco de não termos pessoas para trabalhar aqui”.
Simplificar processos
A segurança do grupo vai muito além dos seus colaboradores directos e que diariamente exercem aqui as suas funções. As preocupações com esta componente são transversais e passam, igualmente, pelos seus prestadores de serviços que regularmente ou pontualmente prestam serviços no interior das fábricas da BA Glass.
Foi a pensar nesses prestadores que a BA decidiu implementar uma nova ferramenta em todas as suas fábricas, garantindo que todos cumprem com os requisitos e padrões de segurança do grupo.
A implementação da plataforma da e-coordina arrancou em Fevereiro de 2021 nas cinco fábricas da Península Ibérica, ficando totalmente concluída no final do primeiro semestre de 2022, com a integração das fábricas da Grécia e Bulgária.
Na plataforma da e-coordina estão integradas as empresas de trabalho temporário e os prestadores de serviços pontuais (que realizam determinado tipo de trabalho e permanecem no interior da instalação). Neste momento, qualquer prestador de serviço, para aceder a uma unidade da BA, em qualquer geografia, tem de estar registado na plataforma e cumprir um conjunto de critérios relacionados com normas de segurança.
A decisão de implementação desta ferramenta foi tomada em plena pandemia, altura em que os responsáveis de segurança olharam para estes aspectos e perceberam que existia espaço para melhoria. “Queríamos uma ferramenta disruptiva”, diz Tiago Vilas Boas, acrescentando que “chegar à Roménia ou à Grécia com uma ferramenta destas é totalmente fora da caixa pois não há nenhuma empresa, nestes países, com algo do género”.
Processos uniformes
E, apesar de a e-coordina não se encontrar em países da Europa de Leste, a empresa aceitou prontamente o desafio lançado pela BA Glass. “A plataforma ecoordina é customizável em função das necessidades do cliente, podendo ser ajustada à realidade de cada país e às normas legais de higiene e segurança de cada mercado”, sublinha Ana Barreira. Neste sentido, esclarece que a ferramenta permite a parametrização total e é adaptada em função de cada norma local, isto porque mesmo que o processo seja uniforme, “a norma em si tem uma aplicabilidade e requisitos diferentes em cada país”.
A adaptabilidade e customização desta plataforma a qualquer sector de actividade e mercado estão relacionadas, essencialmente, com o desenvolvimento informático da ecoordina. É importante realçar ainda a adaptação aos diferentes idiomas e alfabetos, nomeadamente ao alfabeto cirílico necessário nos países da Europa de Leste.
Após a conclusão da implementação da ferramenta em todas as fábricas, Tiago Vilas Boas destaca que o futuro desta parceria passa pelo foco na consolidação destas últimas geografias, incorporadas na segunda e terceira fases. Posteriormente, face às novas necessidades já identificadas na organização, acredita que a ecoordina poderá ser um parceiro em novos projectos.
Ana Barreira sublinha que “o mais importante é fazermos bem este trabalho ao nível dos prestadores de serviço e, a partir daí, pensarmos em todos os produtos anexos que podem facilitar a vida e ser uma mais-valia para a BA Glass, quer no sentido da formação quer das auditorias, por exemplo”.
“Os números são extremamente importantes para a BA”
Com a implementação desta ferramenta, a área de segurança do grupo BA passou a monitorizar mais cinco KPI relacionados com o suppliers compliance por fábrica, número de fornecedores por fábrica, número de fornecedores com zero documentos inseridos na plataforma, número de trabalhadores na plataforma e número de documentos revistos e validados. Estes indicadores juntam-se aos outros sete já analisados pela organização, relacionados com questões reactivas e preventivas. “Os números são extremamente importantes para a BA pois permitem-nos, entre outras coisas, criar uma comparação entre fábricas”.
Em Março de 2022, estavam inseridos na plataforma quase 5000 trabalhadores externos e mais de 32.000 documentos. Actualmente, o nível médio de cumprimento do requisito documental relacionado com normas de segurança de prestadores de serviços é de 74%. “A nossa meta é chegarmos aos 80% em todas, sendo que os restantes 20% correspondem a fornecedores residuais”, explica o responsável da BA Glass. Hoje “conseguimos saber tudo o que se passa em qualquer fábrica do grupo e ficamos muito agradados com esta ferramenta”.
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