Bruno Castro, CEO da VisionWare, numa entrevista à Security Magazine salienta que nos próximos dois ou três anos “haverá uma grande evolução das empresas nacionais” no domínio da cibersegurança. Quanto às tendências futuras, acredita que passarão pela aposta em serviços de monitorização contínua, apoiados em tecnologia e na especialização diversificada de equipas.
Security Magazine – Como considera que evoluíram as preocupações das empresas nacionais relativamente aos temas da cibersegurança?
Bruno Castro – O tecido empresarial português é extremamente heterogéneo no que diz respeito aos temas da cibersegurança e da transição digital, promovidos ainda mais pela pandemia de COVID-19.
Há cerca de 16 anos, quando nos apresentámos pela primeira vez no mercado da segurança da informação, a cibersegurança não era, ainda, uma prioridade.
Nessa altura, as primeiras preocupações e investimentos no tema foram verificadas junto das estruturas do Estado, sectores críticos e organizações multinacionais mais sensibilizadas para estas questões. Hoje, são sobretudo essas empresas que apresentam uma evolução mais positiva ao nível de maturidade em segurança da informação.
Ainda assim, a pandemia obrigou o tecido empresarial a ganhar uma maior sensibilização para a importância da cibersegurança, demonstrando a sua pertinência transversal e acelerando a evolução das empresas de menor dimensão e com níveis de maturidade de segurança da informação mais baixos. Por esta razão, creio que haverá uma grande evolução das empresas nacionais neste domínio nos próximos dois ou três anos.
Na sua perspectiva, quais os grandes desafios ao nível da cibersegurança que esta sociedade hiperconectada traz às organizações em Portugal e no mundo?
Na minha opinião, o principal problema é o (pouco) tempo. Nesta sociedade, como diz, hiperconectada, tudo acontece de forma mais instantânea e rápida, mas também passa à história rapidamente.
Assim, não basta ter soluções e respostas rápidas para resolver os problemas dos clientes. É fundamental que estas sejam, não só, entregues em tempo útil como também sejam considerados cenários futuros de prevenção nas várias realidades.
Isto significa substituir a lógica reactiva pela lógica preventiva, e a lógica da solução milagrosa pela lógica da continuidade, além de implicar uma tremenda especialização e diversificação das equipas que trabalham nesta área.
Transmitir esta mensagem às organizações que querem realmente estar um passo à frente dos seus competidores ainda é um dos grandes desafios que temos pela frente.
Quais são, no seu ponto de vista, as grandes tendências que marcarão o próximo ano o mercado da cibersegurança?
Uma das maiores tendências são os serviços de monitorização contínua, apoiados em tecnologia, claro, mas sobretudo em especialização diversificada das equipas, de maneira a conseguirem dar resposta aos desafios cada vez mais híbridos. Só desta forma será possível antecipar ameaças e mitigar os riscos que as organizações enfrentam regularmente.
Observando a actual realidade e ameaças, para onde é que os responsáveis de cibersegurança deverão apontar as suas armas durante o próximo ano?
O nosso trabalho diário demonstra-nos que o factor humano continua a ser um grande responsável pela consumação das ameaças e que estas podem tanto vir de fora, como de dentro de uma organização.
Neste sentido, além de ser fundamental preparar-se uma estrutura capaz de responder às ameaças que vêm do exterior, investindo na tríade de segurança (pessoas, processos e tecnologia), é fundamental olhar para dentro da organização, e sensibilizar e formar as pessoas para que estas não sejam veículos de ameaça.
Como avaliam 2020 na vossa organização em termos de crescimento e como perspectivam o próximo ano? Que novidades estão previstas para o mercado nacional em matéria de investimentos e novos serviços/produtos?
O ano de 2020 obrigou-nos a restruturar a estratégia, nomeadamente no que diz respeito a algumas expectativas de expansão internacional que tínhamos previsto para este ano.
Por estas razões, o nosso foco passou muito pelo mercado nacional e pelas geografias onde já tínhamos operação sustentada.
Com o aumento da cibercriminalidade e consequente procura de apoio na mitigação de ciberataques, por parte de novos clientes, tivemos um crescimento bastante considerável que obrigou a uma aposta no recrutamento face à necessidade de responder rapidamente às exigências do mercado e, também assente na dinâmica de inovação, na criação de novas unidades de negócio orientadas para vertentes alternativas do mundo da segurança.
As novidades que estão previstas são todas aquelas que sustentem a criação de valor na transformação para o digital. A tendência será continuar este processo de transformação e, portanto, é também expectável que os serviços que sustentam os mercados digitais também venham a crescer. Naturalmente, a segurança virá nessa sequência.
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