GS1 Portugal focada na segurança e rastreabilidade do medicamento

Notícias Saúde

 “Aprender com a crise para transformar o sector da Saúde” foi o tema do recente seminário de saúde da GS1 Portugal. Aqui ficam os principais highlights do evento, analisados pela GS1.

“1 em cada 10 medicamentos é falsificado”. Rastreabilidade trava negócios ilícitos na dark web

Guy Villax, Administrador-Delegado da Hovione e Presidente do Health Cluster Portugal, alertou para a ameaça global em que consiste a falsificação de medicamentos e dispositivos médicos, com especial destaque para a falsificação de vacinas para imunização contra a COVID-19.

Como destaca a GS1 no seu site, partilhando evidências iniciais deste fenómeno de falsificação de medicamentos ou produtos de aplicação terapêutica, Guy Villax começou por explicar que esta actividade ilícita ganhou especial relevo no inverno de 2008, quando uma falsificação massiva de heparina causou mais de 150 mortes nos E.U.A. À data foi constituída uma organização, o Rx-360, que consubstancia um grupo internacional de empresas cujo objectivo é lutar contra a falsificação de medicamentos.

Segundo Guy Villax, membro da administração desta organização, foi sobretudo a partir daquela data que começou a ser dada a devida importância aos sistemas de standards desenvolvidos para a rastreabilidade de medicamentos e dispositivos médicos, de que é exemplo o sistema de standards GS1, globalmente reconhecido.

“Este é um tema pouco falado, tanto pelos médicos e farmacêuticos, como pelos media, mas a verdade é que 1 em cada 10 medicamentos é falsificado”, alertou Guy Villax. O Administrador da Hovione realçou ainda o número crescente de denúncias de medicamentos falsificados com “94 incidentes reportados em 32 países diferentes no que diz respeito às vacinas COVID-19”.

Como conta a GS1, Guy Villax deu o exemplo de um caso na Índia onde chegaram a ser montados dois centros de vacinação totalmente falsos que resultaram na vacinação de cerca de 2000 pessoas. “Mas no caso específico da pandemia, não falamos apenas da contrafação de vacinas, mas também dos certificados digitais COVID-19”, acrescentou.

O Administrador da Hovione, como conta a GS1 Portugal, acredita que a rastreabilidade assume, por isso, um papel fundamental para colmatar o gap entre o fornecedor e os restantes elos da cadeia de abastecimento que a dark web está a aproveitar para a venda de medicamentos e dispositivos médicos falsificados.

Bilhete de Identidade do produto que o identifica de forma única com informação de qualidade

A directora de qualidade, compliance e formação da organização, Raquel Abrantes, de duas soluções complementares que visam a garantia da confiança na informação de produto disponibilizada pelos fabricantes: Verified by GS1 e Global Data Model.

Estes dois modelos normalizados de gestão de dados permitem a partilha de um Bilhete de Identidade do produto que o identifica de forma única com informação de qualidade, uniformizada, assente em atributos globalmente definidos e harmonizados.

Comoo destaca a GS1, Raquel Abrantes, referiu que a partilha global de uma identidade válida de produtos garante a confiança e eficiência das cadeias de valor. Em termos práticos, Verified by GS1 permite, entre outras valências, a correcção dos catálogos de produtos, simplifica o processo de listagem, melhora a informação disponibilizada sobre o produto, permite combinar dados de produto de múltiplas fontes, contribui para a automatização e para o combate à falsificação.

Raquel Abrantes salientou ainda que em 47 países em que o projecto teve início, 119 milhões de GTIN – Global Trade Item Numbers foram identificados. Como acrescentou, o lançamento pela GS1 Portugal vem reforçar o ecossistema de soluções digitais disponibilizado pela organização e que visa a entrada e saída de informação única, unívoca e global.

Neste contexto, a outra solução apresentada por aquela responsável, o Global Data Model virá harmonizar dados ao longo de toda a cadeia de valor, garantindo a fluidez da experiência omnicanal e a sincronização de dados tanto global como local. A GS1 Portugal está de momento a proceder à apresentação destas duas soluções complementares ao mercado.

Colaboração e partilha de dados são fundamentais

Ulrike Kreysa, Senior Vice President GS1 Global Office, destacou a importância determinante das metodologias de colaboração, em particular em contexto pandémico. Como destacou, a crise sanitária registou um impacto sem precedentes no setor da saúde. Sendo uma crise sanitária global, requer soluções globais, colaboração global e standards globais que garantam confiança, interoperabilidade, transparência e visibilidade ao longo de toda a cadeia de valor.

Ulrike Kreyse citou o estudo da responsabilidade da Deloitte, publicado já em contexto pandémico, subordinado ao tema Securing trust in the global COVID-19 supply chain, segundo o qual, além da colaboração da indústria e de uma comunicação transparente, “adoptar os standards GS1 adiciona um elemento de confiança a todos os níveis da cadeia de abastecimento no sector da saúde – uma confiança que, em última análise, se transmite aos próprios pacientes”.

O mesmo estudo, sublinhou Ulrike Kreyse, considera os dados de identificação da vacina que garante imunização à COVID-19 (ID do produto, número de lote e data de validade) como “essenciais” à confiança dos profissionais de saúde numa correta administração da vacina”, realçando que “a OMS recomenda que todas as vacinas sejam identificadas com esses dados através de codificação”. GAVI e UNICEF exigiram ainda o recurso a standards GS1 nas embalagens secundárias.

Como reforçou Ulrike Kreysa, as atuais circunstâncias exigem colaborações avançadas a nível internacional. Nesse contexto, os standards GS1 garantem a segurança da cadeia de abastecimento, permitem antecipar desafios e garantem uma comunicação clara e transparente sobre o processo de vacinação, ao longo de toda a cadeia de valor.

Ulrike Kreyse destacou a necessidade de adopção de uma plataforma global que garanta a rastreabilidade do processo de produção, distribuição e administração de vacinas, em que participem os vários visados.

Confiança, Segurança, Transparência, Colaboração

No painel sobre os “Pilares da Cadeia de Abastecimento: Confiança, Segurança, Transparência e Colaboração”, Pedro Lima, da GLSMED Trade e do Grupo Luz Saúde, destacou a importância da centralização do processo logístico e da diversificação da origem dos produtos como acções-chave que garantiram ao Grupo Luz Saúde uma melhor eficiência num período pandémico. Pedro Lima, realçou ainda que “as imposições regulamentares impostas na importação e exportação não devem ser desprezadas, mas acabam por ser barreiras à eficiência do negócio sobretudo dos países mais pequenos”.

Rui Costa, da General Electric Healthcare, disse que a crise pandémica “veio realçar a necessidade da interoperabilidade e da partilha de dados para, por exemplo, criar circuitos COVID e não COVID nas áreas hospitalares”. Como referiu, “Estamos no advento dos dados. A respectiva harmonização e standardização permitirão a integração de algoritmos que pode agilizar a decisão dos actores clínicos. As decisões continuam a ser clínicas, mas essa tomada de decisão será suportada por mais dados”.

Transição digital como factor de eficiência na Well’s – SONAE MC

Madalena Centeno, Gestora de Saúde e Standards da GS1 Portugal, apresentou o trabalho que a organização tem vindo desenvolver com a Well’s, num projecto de Fiabilidade de Leitura em Armazém (FLA).

Como relata a GS1, o plano, implementado em quatro fases na insígnia da SONAE MC especializada em saúde, bem-estar e óptica, teve origem na necessidade de optimização da eficiência do processo de recepção de encomendas e nos novos requisitos de codificação adoptados pela Sonae MC sendo, por isso, necessário para evitar entropias e ajustar a codificação das encomendas a esses novos requisitos.

O projecto, que arrancou em Janeiro deste ano, tem como objectivos aumentar a eficiência da conferência das entregas na plataforma de recepção, uniformizar as codificações aplicadas e lançar bases para a digitalização da cadeia de abastecimento.

Madalena Centeno explicou que o projecto se dividiu em quatro fases: planeamento e preparação; operação e execução em armazém (com a DHL Pharma), através da recolha de amostras de etiquetas para entender como as entregas estavam a ser feitas; análise de dados e elaboração de relatórios para identificação de pontos de melhoria para cada fornecedor; e a acções de correcção, com o desenvolvimento de novas etiquetas para todos os fornecedores.

Com base nos resultados iniciais apresentados, foi possível aferir que, entre os mais de 200 fornecedores avaliados, 68% já utilizam a simbologia GS1. No entanto, vários fornecedores utilizam mais do que um tipo de simbologia nas suas entregas (entre caixas soltas, paletes multiproduto e paletes monoproduto), sendo evidente a falta de coerência nas próprias entregas, comprometendo a eficiência.

Madalena Centeno sublinhou que o projecto terá uma avaliação mais profunda em Setembro, para que, ao fim de nove meses de trabalho, seja possível perceber o verdadeiro impacto deste trabalho no armazém da Well’s.

“Este é um projecto inovador na área da saúde que pretendemos fazer chegar a outras empresas, contribuindo para que o sector evolua no sentido da digitalização e garanta uma melhor comunicação e interoperabilidade entre fornecedores e retalhistas”, concluiu a Gestora da GS1 Portugal.

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