No contexto actual, a utilização das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) é uma das competências mais necessárias para os profissionais. Em resultado da nova dinâmica do teletrabalho, a utilização das TIC tornou-se simultaneamente uma necessidade e uma realidade à qual muitos trabalhadores tiveram de se adaptar para cumprirem com êxito as suas responsabilidades à distância; por vezes, sem as ferramentas necessárias.
Como consequência das exigências de adaptação e especialização do trabalho no século XXI, os trabalhadores enfrentam actualmente um novo risco psicossocial: o stress tecnológico.
Um estudo do Instituto de Segurança e Bem-Estar Laboral espanhol, esta é uma condição psicológica negativa que deriva da predisposição para utilizar as TIC de forma crescente e constante em todas as actividades da vida quotidiana. Tanto “o apoio organizacional como a formação na utilização destas tecnologias são factores que influenciam o desenvolvimento desta condição, que pode ser expressa como tecno-ansiedade, tecno-fadiga ou mesmo tecno-adicção”.
Dado este panorama, o Instituto de Segurança, Saúde e Bem-Estar no Trabalho (ISBL), através do seu Observatório de Prevenção de Riscos Laborais (ObservaPRL.org), realizou um estudo sobre as manifestações do stress técnico e as suas possíveis consequências na saúde ocupacional. Para o efeito, foi aplicado um inquérito online no qual 697 trabalhadores de diferentes áreas profissionais responderam a um questionário que mede 21 variáveis.
A amostra final de participantes foi composta por dois terços dos residentes em Espanha (67%) e no resto da América Latina, destacando-se o Equador (15%), o México (5%) e a Colômbia (4%). Destes, 57% eram mulheres e 43% homens, com uma idade média de 44 anos. Na altura do inquérito, 63% tinham estudos de pós-graduação.
Os resultados do estudo mostraram que 96% dos trabalhadores dos países de língua espanhola utilizam as TIC no domínio profissional. Do mesmo modo, quase metade (45%) passa mais de 10 horas por semana a navegar na Internet e 35% passam mais de 10 horas por semana num telemóvel e mais de cinco horas nas redes sociais. De acordo com as respostas obtidas, o uso excessivo de telemóveis e redes sociais trouxe problemas pessoais a mais de metade dos trabalhadores.
Entre 64% e 68% dos trabalhadores encontram obstáculos para trabalhar bem com as TIC, tendo de interromper as suas actividades profissionais para resolver problemas técnicos. Isto implica que trabalhar bem utilizando tais tecnologias é algo que os obriga a dedicar tempo e esforço. 20% dizem que se sentem sempre exaustos, ou muitas vezes depois de utilizarem as tecnologias, e que a utilização das TIC leva a trabalhar sempre dentro de prazos apertados e por vezes contra-relógio, tendo de fazer mais trabalho do que o que realmente se pode fazer. No entanto, quatro em cada dez referem que frequentemente ou sempre conseguem “desligar-se” tecnologicamente após o trabalho.
Além disso, a maioria dos trabalhadores (45%) não tem formação específica na sua utilização e considera que o trabalho mediado tecnologicamente lhes impõe várias exigências, como trabalhar mais tempo (17%), ter de recordar e estar sempre atento a muitas coisas (27%), correr o risco de o trabalho não correr bem (22%), realizar acções repetitivas (21%) e tratar frequentemente uma grande quantidade de informação e dados (19%). Com o tempo, estas exigências podem tornar-se uma fonte de stress tecnológico e/ou de tecno-fadiga.
Finalmente, em termos dos benefícios da utilização das TIC no trabalho – e apesar das respostas acima referidas – 84% dos trabalhadores afirmaram ter com eles uma experiência geralmente positiva, em comparação com apenas 2% que admitiram que a sua experiência era negativa. Entre 30% e 40% consideram que as TIC têm contribuído para tornar o seu trabalho mais autónomo em termos de organização, tomada de decisões sobre contingências e aplicação de competências e capacidades. Além disso, 40% concordaram que facilitam a gestão dos assuntos pessoais, contra 21% que afirmaram estar preocupados com eles.