Por Carla Capelo, Ergonomista/ Técnica Superior de Segurança e Saúde no Trabalho, ANA – Aeroportos de Portugal
A atual situação de pandemia vivida com a chegada do Covid-19 obrigou a uma mudança repentina do paradigma da maioria das empresas, no que concerne à organização dos serviços de segurança e saúde no trabalho (SST). Em muitas organizações, estes serviços eram apenas vistos como uma obrigação legal, mas tornaram-se indispensáveis – as Direções das empresas têm nas equipas de SST o seu “braço direito” na luta contra a pandemia, sendo este um dos maiores desafios da vida profissional dos trabalhadores desta área.
Para os profissionais de SST chegou repentinamente o desafio de conseguir prever a existência e avaliar o impacto deste “inimigo invisível” dentro das organizações, do qual pouco se sabia (e sabe).
As formações e-learning, webinars, análise da legislação e orientações técnicas de entidades de referência (OMS, DGS, ACT, OIT, etc.), tornou-se prática diária, de modo a obter o máximo de informação em contrarrelógio.
A elaboração e adaptação dos planos de contingência internos tornou-se um requisito constante, priorizando as atividades que continuam em laboração, a integração deste novo coronavírus na avaliação do risco biológico e a divulgação de orientações de caráter ergonómico para os profissionais em teletrabalho. Paralelamente começou a ser pensado o regresso ao trabalho com dois momentos-chave para os profissionais de SST: a preparação do regresso e a fase inicial de reintegração.
Na preparação, a linha de pensamento focou-se na organização de planos de rotatividade de trabalhadores (equipas-espelho), locais e condições de trabalho, seleção e aquisição dos equipamentos de proteção individual e coletiva mais adequados (características da atividade, local, interações, etc.). Durante esta fase foi mantida a comunicação frequente com os trabalhadores, fornecendo dados novos e pertinentes sobre a pandemia (evolução, sintomatologia, formas de transmissão), bem como as medidas implementadas nos locais de trabalho, de forma a permitir aos trabalhadores acompanhar o processo e diminuir os seus níveis de ansiedade perante a nova realidade com a qual se irão deparar.
Durante o regresso efetivo e presencial das equipas, a formação e informação dos trabalhadores para a sua reintegração será fundamental. Os profissionais de SST deverão estar fisicamente nos locais de trabalho, explicando aos trabalhadores as mudanças que ocorreram, novos hábitos e rotinas que deverão adotar e, principalmente, mostrarem-se disponíveis para esclarecer todas as suas dúvidas. A presença das equipas de SST confere conforto e confiança, diminuindo as inseguranças e sentindo que têm, a seu lado, os profissionais mais capacitados para os aconselhar e proteger.
Enquanto uns lutam contra o vírus, os outros terão de aprender a conviver com ele. Não ficaremos todos bem. Mas aumentamos essa probabilidade, para nós e para os nossos, se cumprirmos as orientações que nos são dadas. Mais do que nunca, façamos, cada um, a sua parte: “A nossa liberdade termina onde começa a dos outros.”