As preocupações do sector da segurança privada em Portugal e as grandes tendências desta área são abordadas por Jorge Couto, administrador delegado da Securitas Portugal.
Security Magazine – Quais são as grandes preocupações e desafios que a segurança privada, ao nível do segmento B2B, enfrenta actualmente?
Jorge Couto – No mesmo alinhamento dos anos anteriores, lamentavelmente, a principal preocupação está centrada na irradicação das más práticas, onde o trabalho não declarado como forma de contornar custos com impostos é o grande fenómeno a atacar.
A luta das empresas associadas da AES tem como objectivo a dignificação de um sector de interesse público, que transposta hoje uma imagem negativa, promovida por um conjunto de operadores que sustentam o seu crescimento através do incumprimento em sede fiscal e laboral.
A AES tem-se pugnado pela introdução de duas medidas muito concretas, (i) a implementação de um sistema de inspeção mais eficaz, através da operacionalização de processos de fiscalização inteligente e (ii) a consagração, em casos específicos, da responsabilidade solidária da empresa adquirente de serviços de segurança, verificados que sejam determinados desvios por parte da entidade prestadora desses mesmos serviços. Tudo isto faz parte do nosso portefólio de propostas, que temos vindo a tornar públicas e com as quais temos procurado sensibilizar, nomeadamente, o governo, o parlamento e os parceiros sociais.
Como considera que tem evoluído o mercado da segurança privada em Portugal e o que identifica como as grandes tendências nesta área?
O sector encontra-se numa profunda crise de valores ao nível das práticas de gestão. Os anos de crise económica, caracterizados por uma elevada taxa de desemprego, foram terreno fértil para o oportunismo “selvagem” de alguns players. Por outro lado, a inércia das autoridades públicas e parceiros sociais também contribuíram para o agravamento deste quadro de ilegalidade.
Num ambiente distorcido, sem uma sã concorrência e de pura sobrevivência, a especialização e o investimento são diferidos no tempo e as empresas restringem-se à gestão do dia-a-dia e ao controlo de custos. Se nada for feito, rapidamente teremos um sector que não é atrativo para trabalhadores, credível para utilizadores/ compradores, expressivo ao nível das contribuições fiscais e interessante para o acionista/investidor.
Mas hoje existem condições para inverter este ciclo de declínio. Primeiro porque o mercado de trabalho mudou e os trabalhadores podem avaliar mais ofertas de trabalho e escolher as entidades patronais com as quais mais se identificam. Segundo, porque a experiência de serviço vivida por alguns clientes, durante o período da crise, veio expor as debilidades operacionais e a má qualidade dos serviços desenvolvidos por concorrentes que baseiam as suas propostas em preço e que esconde a exploração das condições laborais e a ausência de estruturas organizativas de apoio à prestação dos serviços no terreno.
Por outro lado, a revisão da Lei de Segurança Privada (LSP), se vier a incorporar medidas fundamentais propostas pelos diferentes stakeolders, pode vir a contribuir para a melhoria do atual estado de desregulação.
Que soluções e grandes apostas actuais da Securitas no mercado nacional?
A nossa aposta prende-se com uma mudança na nossa visão ao nível das soluções de segurança, passando de uma segurança reativa para uma segurança preditiva, com o foco na tecnologia e na componente humana.
A segurança do futuro é uma combinação de pessoas, conhecimento e tecnologia e a Securitas está um passo à frente, liderando pelo exemplo.
Ao nível do grupo Securitas existem vários projetos em execução, com o propósito de preparar a estratégia para depois de 2020 e onde pretendemos materializar as novas tendências, tais como a digitalização e a inteligência artificial (IA).
A Securitas tem marcado também a diferença ao proceder a análises de risco com base na ISO 31000. Nesta análise de risco é feita uma avaliação de eventuais vulnerabilidades, riscos e as correspondentes necessidades específicas em termos de segurança, permitindo desenvolver um plano de segurança eficiente e à medida de cada cliente.
Como correu o ano de 2018 e qual será o foco para o próximo ano?
Terminamos 2018 com um crescimento de 3.5% no volume de vendas, sustentado pelo desenvolvimento das linhas de negócio que concretizam a nossa estratégia, ou seja, o crescimento acentuado na incorporação de tecnologia nas nossas soluções de segurança integradas, na prestação de serviços remotos e serviços de intervenção.
O ano de 2019 será um ano de continuidade na implementação deste plano de negócios, definido em 2015 para um período de cinco anos.
A necessidade em tornar o Sector mais apelativo para o mercado de trabalho (em 2018 a diferença do salário base do vigilante para o salário mínimo nacional era apenas de 14%) condicionou as negociações do novo CCT (contrato colectivo de trabalho), que estabelece um aumento salarial acumulado, em 2019 e 2020, de 20.2%.
Esta realidade vai gerar ainda mais abertura para a introdução de soluções eficientes e inovadoras e, neste sentido, acreditamos que o nosso modelo de negócio poderá ser uma mais valia para os nossos clientes.